Sábios
Xavantes
Em 1974, dois caciques
da nação Xavante vieram visitar a cidade de São Paulo. Na época, os xavantes não
usavam o dinheiro como meio de qualidade de vida. Para eles, qualidade de vida
era alimento, porque era o jeito de garantir sobrevivência.
O avião deles, que
vinha de Cuiabá, pousou em Congonhas e eles foram levados ao abrigo da FUNAI,
que ficava na Vila Mariana. No dia seguinte, foram convidados a passear.
Ficaram boquiabertos com a Avenida Paulista, 2,5 km de catedrais financeiras.
Foram levados a andar de metrô, que acabava de ser inaugurado. Ficaram pasmos
com a velocidade daquele transporte. Foram levados ao shopping. Havia apenas dois naquela época, hoje são cerca de
sessenta. Sabe o que eles não conseguiram entender no shopping e a gente não
conseguiu explicar? Por que a gente entrava num lugar cheio de espelho. Eles
achavam inacreditável que, num mundo cheio de gente, as pessoas gostassem de se
ver, por que querer ver a si mesmo? Esse excesso de espelho é símbolo ético também,
de certa forma de egonarcisismo, que veio sobre nós.
Foram levamos também a
um lugar magnífico, o Mercado Municipal, no centro da cidade. Aquilo é uma
espécie de entreposto comercial, projetado por Ramos de Azevedo, grande
arquiteto que fez o Teatro Municipal e a Faculdade de Saúde Pública. E no
Mercado Municipal é comida para todo lado. Eles deram dois passos e ficaram
pasmos. Pilhas de alface, de tomates, de cenoura, de laranja e etc. Ficaram com
o olhar talvez como o nosso olhar ficaria se entrássemos no cofre de um banco.
Em certo momento, um deles viu uma coisa que nenhum e nenhuma de nós notaria.
Ele cutucou o homem que o acompanhava no passeio e perguntou: “O que ele está
fazendo?” E apontou para um menino negro e pobre (o membro da FUNAI sabia que ele
era pobre por causa da roupa, já o xavante não saberia) que estava no chão a
pegar alface pisada, tomate estragado, batata já moída e colocando num saquinho.
Nenhum e nenhuma de nós se importaria com aquilo, pois para nós é algo normal. Normal? Cuidado com o conceito de
normal.
Nós falamos: “Ué, ele
está pegando comida”. O cacique não disse mais nada. Ele continuou andando, mas
não prestou atenção em mais nada. Depois de uns 15 minutos, ele falou:
-- Eu não entendi. Por
que ele está pegando essa comida estragada aqui no chão, se tem essa pilha de
comida boa?
-- É que para pegar
comida dessa pilha aqui precisa de dinheiro.
-- E ele não tem
dinheiro?
-- Não tem.
-- Por que não tem
dinheiro? – indagava o cacique.
No que ele está
cutucando? Na nossa base ética e no nosso valor de vida. A gente acha que uma
criança com fome, mesmo diante de uma pilha de comida boa, pode comer comida
estragada. Porque a vida é assim. “É normal.”
-- Ele não tem dinheiro
porque ele é criança.
-- E o pai dele tem?
-- Não, o pai dele não
tem.
-- Não entendi. Por que
você, que é grande, tem e o pai dele, que é grande, não tem? De qual pilha você
come, dessa daqui ou a do chão?
-- Dessa daqui.
-- Por quê?
A única resposta possível para o cacique
naquele momento foi a resposta que algumas pessoas que já desistiram dão: “Sabe
o que é? É que aqui as coisas são assim”.
Os dois índios, diante
da resposta, pediram para ir embora não do mercado, mas para ir embora de São
Paulo. E falaram uma coisa um tanto surpreendente: “Vamos embora. Veja como
eles são “selvagens”.
Com isso quero leva-los
a reflexão, que assim como aconteceu com esses índios, estamos considerando o
ato de pecar como algo normal; um hábito! Está certo que é impossível não
pecar, mas está certo torna-lo um hábito? O pecado é como uma droga. Quanto
mais se “usufrui” dele mais você se acostuma e acha “normal”. Ele vicia. E o
pior é que quem não usufrui dessa droga (o pecado) é esquisito (a). Acho que
hoje estamos vivendo uma inversão de papeis: trocando o certo pelo errado,
vivendo os maus costumes como rotina e os bons costumes como caretas. Precisamos
lutar contra o pecado todos os dias e vencer essa batalha. Ou vencemos o pecado
ou ele nos vence. E as consequências da derrota são catastróficas. Em Efésios
6.13-17 nos é citado como devemos estar vestidos para essa batalha diária com o
pecado: “Por isso, vistam toda a armadura de Deus, para que possam resistir no
dia mau e permanecer inabaláveis, depois de terem feito tudo. Assim,
mantenham-se firmes, cingindo-se com o cinto da verdade, vestindo a couraça da
justiça e tendo os pés calçados com a prontidão do evangelho da paz. Além
disso, usem o escudo da fé, com o qual vocês poderão apagar todas as setas
inflamadas do Maligno. Usem o capacete da salvação e a espada do Espírito, que
é a palavra de Deus.” Para Jeová, civilizado é aquele que não faz do pecado um
hábito e uma rotina. E aí, você é civilizado (a)?
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